Saúde mental

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Muitas pessoas consideram psicologia e psicanálise como coisas equivalentes e, muitas vezes, as utilizam como sinônimo de tratamentos para transtornos mentais e psicológicos. Entretanto, psicologia e psicanálise não só são diferentes, como também apresentam diferenças significativas. E para complicar, existem muitas “linhas” que concorrem para as pessoas melhorarem suas condições de vida.

Estas linhas, também chamadas de abordagens, por vezes não exigem diploma em psicologia, demandando cursos de pós-graduação ou especialização. Entretanto, todas, sem exceção, exigem aprimoramento e estudo constante não só sobre as teorias vinculadas, mas também sobre tudo aquilo que envolve a vida das pessoas. Podemos falar sobre cultura pop, lutas sociais, economia, tecnologia, religião, educação e política, afinal a vida não possui limites.

O objetivo deste post é apresentar as definições das linhas mais comuns de modo a aumentar a penetração deste assunto em nossas relações sociais. Vamos a elas:

Psicologia

É uma área do conhecimento científico que estudo o comportamento humano individual e social, bem como suas relações com o ambiente. Profissionais de psicologia orientam seu trabalho para entender não só as questões individuais de saúde mental, mas também como grupos são afetados. Profissionais formados na graduação em psicologia possuem conhecimento amplo sobre áreas diversas do conhecimento e sobre algumas das linhas que apresentarei a seguir, caminhando para um atendimento clínico sob o nome geral de psicólogo ou psicóloga.

Psiquiatria

É uma especialidade médica dedicada a diagnosticar transtornos mentais e promover tratamento, normalmente medicamentoso, a estes transtornos. A graduação é em medicina e a especialização e em psiquiatria e isso determina muito do campo de atuação. Temos uma parte de prevenção de doenças, mas com grande foco em tratamento. Muitas das “linhas” possuem, em maior ou menor grau, críticas ao tratamento medicamentoso dos transtornos existentes, mas ainda assim priorizam o trabalho conjunto com esta especialidade pois esta é a única que pode efetivamente diagnosticar e incluir medicamentos no tratamento. Profissionais da psiquiatria também podem se especializar em outras abordagens desta lista.

Psicanálise

Começamos com o nome mais conhecido do artigo, Sigmund Freud. Freud é um médico neurologista tcheco que criou a psicanálise a partir dos seus estudos sobre a histeria em 1896. Conhecida como a terapia da fala, estabelece uma relação individual e privativa com o paciente para que, ao longo de sessões regulares, o paciente possa apresentar suas angústias, sonhos e sentimentos, de modo que o profissional possa interpretar as situações que geram sofrimento. A psicanálise estabeleceu conceitos muito conhecidos na sociedade mundial como id, ego, superego, complexo de Édipo e muitos outros. Posteriormente, o campo se desenvolveu e outro expoente da psicanálise é Jaques Lacan. A psicanálise é tida como um tratamento de longo prazo, embora existam versões clínicas mais pragmáticas.

Psicologia Analítica

Criada por Carl Gustav Jung, psiquiatra suíço que por muitos anos acompanhou Freud, é muito conhecido pelos seus estudos de simbologia e mitologia para explicar os conceitos da mente. Criou conceitos que permeiam o nosso conhecimento de psicologia como o inconsciente coletivo, os arquétipos e a classificação da personalidade introvertida e extrovertida. Devido a amplitude de seus interesses, passando por religião, filosofias ocidental e oriental, alquimia e astrologia, clínicas Junguianas podem parecer, aos desavisados, um pouco exotéricas, mas isso não condiz com a realidade, visto que tudo é visto como símbolo para uma posterior interpretação.

Psicologia Arquetípica

James Hillman, psicólogo norte-americano, criou nos anos de 1970 uma linha mais contemporânea de psicologia, baseada nos conhecimentos de Jung, apresentando alguns “rompimentos” com as ideias de Freud e de Jung. A psicologia arquetípica critica os conceitos de Ego e Arquétipos previamente estabelecidos. Para Hillman, a psique é formada influência de imagens e símbolos que agem sobre o Ego, fazendo dele um coadjuvante e não um personagem principal. Para a psicologia analítica, o processo de imaginação e as metáforas podem criar a base para a solução complexos.

Esquizoanálise

A esquizoanálise foi criada pelo filósofo francês Gilles Deleuze e o psicanalista francês Félix Guattari como uma “crítica” à psicanálise estrutural e fechada, preocupada com as identidades, os papeis e o ego. Para a esquizoanálise, a leitura da realidade (natural, social, subjetiva, econômica etc.) é necessária para entender que o ser humano é submetido a controles constantes de forças que disputam entre si e promovem uma anulação dos desejos originais e individuais do sujeito que se vê preso no mundo. Muito baseada em filosofia, busca construir uma psicologia materialista na qual a mente não é algo distinto do corpo e a representação de um ideal impede o reconhecimento do desejo originário do indivíduo.

Análise do Comportamento

Também chamada de Behaviorismo, no terno nacionalizado do inglês, a análise do comportamento foi criada por Burrhus Frederic Skinner, psicólogo norte-americano na década de 1960. Skinner apresenta um forte pragmatismo em seus conceitos, partindo para a não existência de uma separação entre corpo e mente, a não existência do livre-arbítrio e a definição que todas as ações humanas dependem das consequências das ações anteriormente realizadas. Na análise do comportamento é possível construir o caminho para controlar e moldar comportamentos desejáveis e é muito aplicado clinicamente em tratamentos de mais “curto prazo” para tratar fobias e relacionamentos por meio de “recompensas”, criação de situações positivas para alterar comportamentos.

Análise do Comportamento Aplicada (ABA)

Enquanto a análise do comportamento pode ser considerada experimental, devido ao caráter acadêmico dos estudos, a análise do comportamento aplicada (ABA na sigla em inglês para applied behavior analysis) é a aplicação dos estudos para efetivamente promover a melhora do comportamento humano. Atualmente a ABA é muito utilizada para o ensino e a melhor adaptação de crianças com transtorno do espectro autista (TEA). Como não se baseia no mentalismo e sim no comportamento visível, oferece um ferramental poderoso para superar desafios que o TEA oferece.

Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)

Se a psicologia se confunde com a psicanálise, a análise do comportamento se confunde com a TCC para muitas pessoas pelo uso da palavra Comportamento em seu título. A terapia cognitivo-comportamental pode ser considerada como uma fusão das bases de Freud com as de Skinner. Criada pelo psiquiatra norte-americano Aaron Beck, a TCC se baseia no modelo de pensamento para a mudança do comportamento, ou seja, enquanto a análise do comportamento analise o resultado passado de uma determinada ação, a TCC busca mudar as emoções e mentalizações do atendido para a construção de um comportamento diferenciado.

Terapias humanistas

O humanismo se refere a um movimento da psicologia da década de 1960 que vai contra as forças da psicanálise e da análise do comportamento, abrangendo a fenomenologia, o existencialismo e o humanismo que por mais diferentes entre si que sejam, possuem mais similaridades do que diferenças e por isso foram agrupadas para efeito prático deste artigo. São linhas deste grupo a Daseinsanalyse (Martin Heidegger), a Gestalt Terapia (Fritz Perls) e a Terapia Centrada na Pessoa (Carl Roggers). Não se baseiam no mentalismo e no passado, e sim no presente, naquilo que se vive agora, no sentido que as coisas que são e acontecem tem, partindo do princípio de que duas pessoas podem compartilhar experiências, porém com sentimentos diferenciados sobre o ocorrido. 

Terapias Integrativas – Arteterapia e Musicoterapia

A arte ocupa um papel central na vida das pessoas, mesmo que elas não se atenham estritamente ao tema. Desta forma, muitos profissionais optam por linhas mais integrativas onde sensações e sentimentos sejam aflorados e expressados por meio da sensibilidade musical ou artística. Estas práticas podem ser usadas de forma complementar ou mesmo isoladamente, fazendo com que o processo de terapia se torne mais acessível e não dependa tanto da fala e de exposições concretas.

Logoterapia

Viktor Frankl criou a logoterapia após sua passagem pelos campos de concentração nazista onde sua mãe e esposa são executadas. Com base nesta experiência, ele desenvolve uma crítica à psicanálise e cria uma psicologia na qual a busca por sentido é a motivação primária da vida humana, e não uma realização de impulsos descrita por Freud na busca por prazer.  Na logoterapia o terapeuta auxilia a pessoa atendida a entender o sentido de sua existência.

Terapia Corporal Reichiana

Wilhem Reich buscou se aproximar de Freud por quem tinha muita admiração, entretanto criou uma linha própria baseada na dissolução das “couraças do corpo”. A terapia corporal proposta por ele busca a reestruturação do equilíbrio energético e da expressividade emocional por meio da respiração, pressão sobre os músculos tensionados e superação das resistências. Reich coloca um foco especial na questão da sexualidade pois, para ele, a repressão sexual é origem das neuroses.

“Nossa, eu não sabia de nada disso! E agora, qual a linha do meu terapeuta?”

Você pode ter se feito essa pergunta, mas a resposta importa pouco. As abordagens citadas, entre outras, são apenas uma “caixa de ferramenta” dos terapeutas, servindo de ferramental para trabalhar as situações que são encontradas no dia a dia da clínica e da vida. As pessoas atendidas podem desenvolver uma afeição ou preferência por uma ou outra, mas não são elas que determinam o “sucesso” para a maior parte dos casos. 

Mas, se “importa pouco”, o que importa? Bom, o mais importante é a construção de um vínculo profissional entre o terapeuta / analista / psicólogo e o atendido / cliente / paciente (sim, cada linha atribui um nome diferente para as partes na relação).

Quando chegamos ao consultório, seja online ou presencial, é importante para todos os lados estabelecer, dentro dos seus conceitos, uma relação ética, saudável e profissional. Os profissionais que atendem possuem não só formações distintas, mas também experiências distintas. A psicanálise descreve esta relação por meio do conceito de transferência e contratransferência, sentimentos positivos ou negativos que circulam no espaço da clínica. 

Cada linha tem o seu conceito, a esquizoanálise considera a teoria dos afetos, mas para este propósito podemos ficar com a transferência. A importância para a pessoa atendida é sentir empatia, se sentir respeitada e valorizada como ente único. Quando a relação estabelecida possui seu valor, a linha terapêutica ficará em segundo plano, pois a jornada se compartilhada e vivida com um objetivo comum, o da pessoa em atendimento.

Busquei apresentar um resumo de forma a orientar novas perguntas sobre o seu próprio processo. Mais informações podem ser encontradas com profissionais de cada uma das linhas ou mesmo em livros e sites especializados.

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Maurício Corsetti - Terapeuta e analista - Logo animado

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