Saúde mental

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A depressão é um dos maiores problemas da modernidade, afetando, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, 280 milhões de pessoas em todo o mundo. Já discuti a importância da saúde mental em outro espaço, mas agora vamos nos aprofundar na questão da depressão.

O que é depressão?

Embora existam várias críticas, iniciarei a resposta com base no modelo médico, que é o mais amplamente aceito pela maioria das pessoas. Esse modelo parte do pressuposto de que uma doença ou transtorno é uma manifestação de patologias que precisam ser identificadas, definidas e tratadas, geralmente através de medicamentos. Nesse contexto, o indivíduo é comparado estatisticamente à média da população.

De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição (DSM-5), disponível online, a depressão é classificada como Transtorno Depressivo e se caracteriza pela presença de “humor triste, vazio ou irritável, acompanhado de alterações somáticas e cognitivas que afetam significativamente a capacidade de funcionamento do indivíduo. As categorias de diagnóstico incluem:

  • Transtorno disruptivo da desregulação do humor;
  • Transtorno depressivo maior (incluindo episódio depressivo maior);
  • Transtorno depressivo persistente (distimia);
  • Transtorno disfórico pré-menstrual;
  • Transtorno depressivo induzido por substância/medicamento;
  • Transtorno depressivo devido a outra condição médica;
  • Outro transtorno depressivo especificado;
  • Transtorno depressivo não especificado.

As diferenças nos diagnósticos refletem variações em aspectos como duração (de 3 a 6 meses, no mínimo) e momento ou origem presumida, evitando assim diagnósticos baseados em casos esporádicos como os de luto.

Embora não abordemos agora as diferenças entre os tipos, é crucial reconhecer que, mesmo entre especialistas como psiquiatras, pode haver diagnósticos variados para os mesmos sintomas, resultando em conclusões que incluem transtorno bipolar ou transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, especialmente quando a depressão se apresenta juntamente com outras comorbidades.

Testes e questionários podem ser utilizados para avaliar a saúde mental e, com base em algumas respostas, é possível fazer um autodiagnóstico preliminar rapidamente.

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No entanto, mesmo com a definição de patologia e ferramentas para avaliação, surge a pergunta: qual é a verdadeira patologia?

No caso da depressão, a patologia está relacionada ao desequilíbrio de neurotransmissores no cérebro, sendo a serotonina, noradrenalina e dopamina os principais. Estudos, como este, confirmam essa afirmação.

No entanto, você já viu uma pessoa com depressão ser avaliada quimicamente por meio de um exame que medisse seus níveis de neurotransmissores? E como funciona o processo de tentativa e erro com medicamentos que atuam sobre diferentes neurotransmissores ou a combinação de vários tratamentos?

Se a depressão é uma patologia e há uma “cura”, como lidamos com a normalização do uso de medicamentos por toda a vida? Questões como essa são importantes e provocativas.

Essas indagações são filosóficas e visam ampliar nosso entendimento sobre o modelo médico. Porém, em hipótese alguma, isso deve ser interpretado como uma sugestão para interromper tratamentos em andamento. Medicamentos antidepressivos têm efeitos profundos na vida das pessoas e, assim como são indicados por médicos, devem ser descontinuados com acompanhamento.

Outras formas de entender o que é depressão

Diversas linhas da psicologia, como a Análise do Comportamento e a Esquizoanálise, não veem a depressão como uma patologia a ser tratada com medicamentos.

Para a Análise do Comportamento, as ações, consequências e reforços moldam o comportamento do sujeito, que pode ou não se perceber adaptado à sociedade, mantendo déficits ou excessos de comportamentos que geram sofrimento. Um estudo de caso pode ser conferido aqui.

A Esquizoanálise, por sua vez, considera a depressão como um bloqueio do desejo, uma anulação da vontade provocada por forças repressoras. Vamos explorar essa ideia por meio de uma breve resenha de um livro do autor sul-coreano Byung-Chul Han.

O livro “A Sociedade do Cansaço” argumenta que a sociedade atual do século XXI é marcada pela “violência da positividade”, resultante do excesso de produção, desempenho e comunicação. Isso leva as pessoas a uma autoexploração e a uma pressão extrema por eficiência, promovendo uma mudança de paradigma do “dever” para o “poder”. Essa transição gera uma pressão sobre o indivíduo, que é deixado à sua própria responsabilidade e iniciativa, em um contexto que podemos comparar ao neoliberalismo capitalista. Essa busca incessante por produtividade e criatividade resulta em uma forte intolerância ao tédio e às “pausas da vida”, exigindo das pessoas uma “vida ativa”, ao invés de uma vida contemplativa com atenção profunda. Isso contrasta com a atenção difusa que aplicamos na multitarefa e nas redes sociais.

O autor conclui mencionando que essa pressão por desempenho pode levar a uma “dopagem cerebral”, onde precisamos ampliar nossas capacidades para atender a todas as demandas, resultando em desempenhos vazios. Podemos nos perceber consumindo remédios, vitaminas e suplementos para sermos mais atraentes, ágeis, atentos, descansados e performáticos, promovendo um cansaço não físico, mas um esgotamento social.

Para a Esquizoanálise, a depressão é resultado desse esgotamento do indivíduo, que se vê sem energia para criar. No entanto, essa pessoa depressiva está repleta de potência que deve ser libertada; isso requer fugir do ego e da neurose, abandonando a idealização e os desejos impostos pela sociedade do cansaço, para que a verdadeira essência possa reconhecida.

Há muito que discutir e construir para um mundo mais saudável mentalmente. Este artigo é uma provocação e um convite para refletir sobre outras formas de ver o mundo. Como já apresentado em um texto anterior, cada abordagem da psicologia tem sua maneira de entender a vida, as demandas individuais e como promover cuidado e atenção aos transtornos vividos.

E o Burnout?

A sociedade do cansaço é caracterizada por profissionais exauridos, como velas queimadas. Essa exaustão extrema é consequência de demandas excessivas, frequentemente ligadas ao excesso de trabalho, onde a possibilidade de sucesso ou de atingir metas é quase nula, acompanhada por pressão constante e responsabilidades não compartilhadas.

As pessoas que sofrem de burnout apresentam sintomas semelhantes aos da depressão profunda, mas com causas bem definidas, o que reforça a necessidade de uma avaliação cuidadosa do processo de tratamento oferecido.

Cuidados emergenciais

Atenção: se você estiver em uma emergência, peça ajuda ligando para o CVV – Centro de Valorização da Vida, pelo telefone 188. Se você precisar de acompanhamento e não tiver condições financeiras para o tratamento, procure a UBS mais próxima ou um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) em seu bairro ou cidade. Para quem está em São Paulo, aqui está o link para a lista de CAPS. Por fim, busque um terapeuta, psicólogo, psiquiatra ou outro profissional qualificado para orientá-lo em seu caso específico.

 

Artigo escrito por Mauricio Corsetti.

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