A vida hoje é muito mais complicada do que antigamente, quando a psicologia era considerada elitizada. Mesmo com todo o preconceito envolvido, fazer terapia era, de certa forma, visto como algo chique. Atualmente, além de ser uma necessidade crescente para todas as pessoas — visto que, segundo a Organização Mundial da Saúde, a depressão e a ansiedade são as doenças mais incapacitantes no mercado de trabalho — temos muito mais acesso e visibilidade sobre situações que afetam a saúde mental. Junto a essa nova demanda de clientes e pacientes, surge a necessidade de uma psicologia decolonializada.
Mas o que isso significa?
Primeiramente, é importante esclarecer o que se entende por colonialismo, descolonialismo e decolonialismo.
O colonialismo foi um método de dominação em que uma nação exercia controle sobre outra por meio de exploração e povoamento. Esse processo influenciou a territorialidade, a cultura e a economia, sendo majoritariamente realizado por países europeus na América Latina, África e parte da Ásia entre os séculos XIV e XVII.
O descolonialismo, por sua vez, foi o movimento de luta das colônias para obter a independência, superando a fase de colonização e “ingressando no mundo” de acordo com as regras vigentes.
Já o decolonialismo é um movimento que reconhece que as consequências da colonização não podem ser facilmente apagadas de uma sociedade que se tornou independente. Existe uma necessidade constante de análise e rompimento com certos padrões de comportamento e funcionamento, inclusive em relação aos países colonizadores.
No Brasil, em especial, muitas “normalidades” têm suas raízes em uma herança colonialista. Podemos citar como exemplos os latifúndios, o autoritarismo nas relações de poder (tanto policial quanto civil), a marginalização resultante do fim da escravidão, a criminalização da pobreza, o “quarto da empregada” nas construções civis e a heteronormatividade branca. Embora o patriarcado não faça parte dessa “herança”, ele permeia todos os problemas mencionados sendo uma origem comum.
E o que isso tem a ver com a psicologia?
Tudo! Os principais pensadores e teóricos da psicologia são, quase sempre, homens brancos, norte-americanos ou europeus, que viveram em contextos extremamente diferentes do nosso e que não têm uma história de colonização como os povos do “sul global”. São eles os responsáveis pela criação de abordagens que guiam essa área do conhecimento, repletas de preconceitos estruturais.
Suas teorias, sem adaptações ou modernizações, não abrangem as diferentes realidades religiosas, os preconceitos, as injustiças sociais, a má distribuição de renda, a justiça climática, o feminismo e a diversidade de gênero, muitas vezes ignorando essas questões ou forçando sua simplificação para encaixá-las em suas abordagens.
A luta por uma psicologia decolonializada busca realizar uma revisão teórica e ampliar as pesquisas para construir uma nova psicologia que leve em conta os saberes dos povos colonizados ou oprimidos, considerando que determinadas regras, além de não serem universais, mantêm a base do pensamento colonialista.
Refletir sobre essa nova psicologia envolve, entre outras coisas:
- Conscientização histórica, cultural, política e social;
- Incorporação dos saberes de grupos locais;
- Reconhecimento e desconstrução de privilégios;
- Melhor uso da linguagem e da comunicação;
- Ampliação da justiça e da equidade;
- Educação constante sobre antirracismo e feminismo.
Buscar a decolonização da psicologia significa ir além do que está atualmente nos livros; é se envolver com a sociedade para reconhecer que a saúde mental é um direito de todos. Isso inclui indígenas, negros, LGBTQIA+, mulheres, homens, pessoas com deficiência e todos os outros grupos não mencionados aqui, que frequentemente estão interseccionalizados.
Artigo escrito por Mauricio Corsetti.
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