Todo mundo envelhece, embora nem todos pensem nesse processo com frequência. Entretanto, as circunstâncias mudaram devido ao aumento da longevidade e a fase da vida que é conhecida como adultez tardia, apresenta novos desafios.
Ao contrário do que muitos podem pensar, a adultez tardia não se refere à chegada tardia da vida adulta para algumas pessoas. Esse conceito, utilizado na psicologia, refere-se ao natural processo de envelhecimento que todos enfrentamos, frequentemente associado à falta de informação, preconceito, solidão e tristeza para muitas pessoas.
Após passarmos pela infância, adolescência e adultez, chega a fase da vida em que nos deparamos com ainda mais mudanças em nosso corpo e funcionamento, além de enfrentarmos doenças crônicas e/ou debilitantes.
As pessoas estão vivendo mais
De acordo com um estudo publicado em 2023 pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a expectativa média de vida no Brasil, após a pandemia de Covid-19, é de 75,5 anos (com variações conforme classes sociais, etnias, homens e mulheres). Em comparação, em 1980, essa expectativa era de 62,5 anos e, em 1960, de 52,5 anos.
Dados do Banco Mundial de 2021 indicam que países desenvolvidos apresentaram um avanço menos significativo, mas ainda impressionante, alcançando uma expectativa de vida média de 82 anos, partindo de 70 anos em 1960. A China se destacou entre os países, com o maior aumento da expectativa de vida nos últimos 60 anos, subindo de 33 anos em 1960 para 78 anos em 2021.
Hoje, não é mais incomum ouvir sobre pessoas que vivem, ou viveram, mais de 100 anos; a pessoa mais idosa registrada viveu até os 122 anos e 164 dias, falecendo na França em 1997.
Entretanto, o envelhecimento da população traz consigo muitos desafios sociais e individuais que precisam ser reconhecidos.
Etarismo, ageismo ou idadismo
Etarismo, ageismo ou idadismo referem-se ao preconceito que leva à categorização e julgamento das pessoas idosas unicamente com base na idade cronológica, muitas vezes amplificado por fatores interseccionais e pela estrutura da sociedade. Vale lembrar que interseccionalidade se refere à interação entre múltiplos fatores sociais, como gênero, etnia, raça, localização geográfica e idade, que afetam uma pessoa simultaneamente.
Dentre diversas razões, e especialmente devido ao abandono da população idosa, foi promulgado, em 2003, o Estatuto da Pessoa Idosa, pela então presidente Lula, que estabelece que:
“A pessoa idosa goza de todos os direitos que a pessoa humana, assegurando-se a ela todas as oportunidades e facilidades para a preservação de sua saúde física e mental, e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade.”
É curioso que tenhamos precisado de uma lei para reconhecer o que deveria ser óbvio, dado o número de casos de maus-tratos. A lei determina a necessidade de ações educativas sobre os aspectos biopsicossociais do envelhecimento.
Saúde da pessoa idosa
Embora não seja garantido que todas as pessoas idosas desenvolvam problemas de saúde, é comum que a maioria apresente um ou mais problemas decorrentes do envelhecimento, impactando sua qualidade de vida. Alguns desses desafios incluem:
- Diminuição na duração e qualidade do sono, resultando em mais tempo acordado e menor disposição;
- Comprometimento da visão, levando muitas pessoas a precisarem de óculos e mais iluminação para enxergar como antes;
- Deterioração auditiva, com alguns indivíduos ao redor dos 90 anos apresentando quase surdez;
- Doenças, como gripe e câncer, tornam-se mais agressivas;
- Fragilidade muscular e óssea, aumentando o risco de acidentes, além de problemas de coração e circulação se tornarem mais frequentes;
- O sexo, embora continue importante, pode assumir novas características.
A saúde não se resume apenas a aspectos físicos; envolve também fatores neurológicos, que podem ser sutis. Com o envelhecimento celular natural, conhecido como senescência, o cérebro está mais vulnerável e pode apresentar uma série de ocorrências:
- A produção e a disponibilidade de neurotransmissores diminuem, o que pode resultar em raciocínio mais lento, refletindo na fala, nos movimentos e nas reações;
- A memória, uma função complexa dependente de muitas outras, pode apresentar falhas, exigindo mais atenção e tempo nas atividades;
- Transtornos neurocognitivos se tornam mais comuns, podendo variar em severidade. O mais grave deles é a doença de Alzheimer, que impede a comunicação entre neurônios, causando sérios prejuízos na vida da pessoa e de seu círculo social;
- As debilitações motoras, como as causadas pela doença de Parkinson, começam com rigidez ou tremores musculares, podendo evoluir para degeneração cognitiva.
- A depressão e a ansiedade podem se manifestar devido a processos de abandono, medos, solidão, doenças com comorbidades e muitos outros fatores, como a proximidade da morte.
Esses elementos podem complicar a qualidade de vida da pessoa idosa, que tende a perder grau de independência e requer mais apoio das pessoas ao seu redor. No entanto, como muitas vezes essas pessoas são vistas como “não produtivas” sob a perspectiva capitalista, acabam sendo encaradas como um peso e abandonadas, contribuindo para a origem do etarismo.
Saúde mental da pessoa idosa
É possível fazer muito em termos práticos para manter a saúde mental da pessoa idosa, lembrando que cuidar dos idosos é um dever de todos e da sociedade como um todo. Além dos cuidados primários de segurança, alimentação e acompanhamento, é fundamental:
- Combater o etarismo em todas as suas formas;
- Estimular a criatividade e a produção artística por meio de atividades manuais e imaginativas;
- Incentivar o registro da jornada pessoal, criando um livro de memórias e revisitando a própria história;
- Promover estímulos para a manutenção da capacidade cognitiva, como conhecer os benefícios que os videogames podem oferecer para esse público;
- Acompanhar a saúde física com o apoio da medicina geriátrica;
- Oferecer acompanhamento terapêutico para que a pessoa idosa possa refletir sobre seu papel no mundo.
A proposta desta clínica para a pessoa idosa é a Terapia no Parque, uma forma de responder a muitas das demandas apresentadas neste artigo. Nesse modelo de atendimento, desde que a pessoa idosa mantenha alguma independência, ela poderá estimular o físico, o emocional (por meio do contato com a natureza e outras pessoas) e o pertencimento social, além de endereçar questões individuais relacionadas ao seu processo terapêutico.
A principal fonte de informações deste artigo foi o livro “O Desenvolvimento da Pessoa”, de Kathleen Stassen Berger.
Artigo escrito por Mauricio Corsetti.
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