Saúde mental

⏲︎ 4 mins.

Ao contrário do que podemos considerar, adultez tardia não é a vida adulta que chega mais tarde para algumas pessoas. Adultez tardia, conceito utilizado pela psicologia, é o natural envelhecimento de todos nós, sinônimo de falta de informação, preconceito, solidão e tristeza para muitas pessoas.

Depois de passarmos pela infância, adolescência e adultez, chegamos a uma fase da vida que onde nos deparamos com ainda mais mudanças em nosso corpo e funcionamento, além de esbarramos em doenças crônicas e/ou debilitantes.

As pessoas estão vivendo mais

De acordo com um estudo publicado em 2023 pelo IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a expectativa média de vida no Brasil, pós pandemia de Covid-19, é de 75,5 anos (reservadas diferenças para classes sociais, etnias, homens e mulheres), sendo que em 1980 era de 62,5 anos e, 1960, era de 52,5 anos.

Dados do Banco Mundial de 2021 indicam que países desenvolvidos tiveram avanço menos significativo, mas ainda mais impressionante, chegando aos 82 anos em média, partido dos 70 em 1960. A China é o país que apresentou o maior crescimento da expectativa de vida nestes últimos 60 anos, partido de 33 anos em 1960 e chegando aos 78 em 2021.

Não é mais incomum sabermos de pessoas que vivem, ou viveram, mais de 100 anos, sendo a pessoa mais idosa registrada viveu até os 122 anos e 164 dias, falecendo na França em 1997.

Entretanto, o envelhecimento da população apresenta muitos desafios sociais e individuais que precisamos conhecer.

Etarismo, ageísmo ou idadismo

Etarismo, ageísmo ou idadismo é o preconceito com o qual as pessoas idosas são categorizadas e julgadas unicamente com base na idade cronológica, porém intensificado pela interseccionalidade e pela estrutura na qual desenvolvemos a nossa sociedade. Vale lembrar que a interseccionalidade é a interação entre dois ou mais fatores sociais que definem uma pessoa como, por exemplo, como gênero, etnia, raça, localização geográfica ou mesmo idade que não afetam uma pessoa separadamente, mas sim ao mesmo tempo.

Entre outras razoes, mas também por conta do abandono da pessoa idosa, em 2003 foi promulgado pelo então presidente Lula em seu primeiro mandato, o Estatuto da Pessoa Idosa, Lei 10.741/03, que estabelece que:

“A pessoa idosa goza de todos os direitos que a pessoa humana <…> assegurando-se lhe todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade.”

É mais um caso curioso, precisarmos de uma lei para o óbvio, que na prática não é tão óbvio, dada a quantidade de casos de maus tratos. A lei determina que sejam estabelecidas ações de caráter educativo sobre os aspectos biopsicossociais do envelhecimento.

Pensando na importância da saúde mental, já descrita neste post, também aplicada a este público, temos que entender algumas das mudanças e situações que a pessoa idosa experiencia em sua adultez tardia, visto que o etarismo força a pessoa idosa é um fator adicional de prejuízo em sua saúde mental.

Saúde da pessoa idosa

Embora não exista uma previsão de que todas as pessoas idosas desenvolvam problemas de saúde, podemos perceber que a grande maioria apresenta um ou mais problemas decorrentes do envelhecimento que prejudicam a qualidade de vida.

  • O dormir tem duração menor e é mais interrompido, fazendo com que a pessoa tenha mais tempo em vigília e apresente menor disposição;
  • A visão apresenta falhas e muitas pessoas precisam de óculos e mais luz para enxergar como antes;
  • A audição é comprometida, fazendo com que pessoas ao redor dos 90 anos possam ser quase surdas;
  • Doenças como gripe e câncer ser tornam mais agressivas; a fragilidade muscular e óssea aumenta o risco de acidentes de todos os tipos, problemas de coração e circulação são mais frequentes;
  • O sexo pode continuar a ser uma coisa importante na vida das pessoas, porém adquire outras características.

A saúde, entretanto, não se resume só aos aspectos concretos descritos, envolve também aspectos neurológicos, mas sutis de serem percebidos. Devido ao envelhecimento celular natural, conhecido como senescência, o cérebro corre mais riscos e pode apresentar uma série de ocorrências.

  • O envelhecimento diminui a produção e disponibilidade de neurotransmissores, podendo tornar o raciocínio mais lento, que pode ser percebido na fala, nos movimentos e nas reações;
  • A memória é uma função complexa que depende de muitas outras funções, e nas pessoas idosas, a memória pode apresentar falhas de muitos tipos, requerendo mais atenção e tempo em suas atividades;
  • Transtornos neurocognitivos se tornam mais comuns, podendo ser mais ou menos severos. O mais grave deles é a doença de Alzheimer (chamada comumente de senilidade ou demência) impede neurônios de se comunicar e causa graves prejuízos na vida da pessoa e de seu círculo social;
  • Debilitações motoras promovidas pela doença de Parkinson começa com rigidez ou tremor dos músculos, mas podem evoluir para degeneração cognitiva.
  • A depressão e ansiedade podem se tornar presentes em decorrência de processos de abandono, medos, solidão, doenças com comorbidades e muitos outros fatores como, por exemplo, a proximidade da morte.

Fatores como estes podem atrapalhar a qualidade de vida da pessoa idosa pois vimos que ela, em geral, tende a diminuir seu grau de independência e requer mais suporte das pessoas que convivem com ela. Entretanto, sendo a pessoa idosa não mais “produtiva” de acordo com a visão capitalista, muitas vezes são encaradas como um peso e abandonadas e, neste sentido, podemos entender parcialmente a origem do etarismo.

Saúde mental para a pessoa idosa

Muito pode ser feito em termos práticos para a manutenção da saúde mental da pessoa idosa, mantendo em mente que cuidar dos idosos é dever de cada um de nós e da sociedade como um todo. Para além dos cuidados primários de segurança, alimentação, acompanhamento e outros, podemos:

  • Combater o etarismo em todas as suas formas;
  • Estimular a criatividade e a produção artística por meio de atividades manuais e imaginativas;
  • Estimular o registro da jornada pessoal com a criação de um livro de memórias e uma revisão da própria história;
  • Promover estímulos para manutenção da capacidade cognitiva, vale conhecer os benefícios que os videogames proporcionam para este público em especial;
  • Acompanhar a saúde física com o apoio da medicina geriátrica;
  • Promover o acompanhamento terapêutico da pessoa idosa para que esta possa trocar e refletir sobre seu papel no mundo.

A proposta de Terapia no Parque é uma oportunidade para responder muitas das demandas apresentadas neste artigo. Neste modelo de atendimento, desde que com alguma independência, a pessoa idosa poderá estimular o físico, o emocional (frente ao contato com a natureza e outras pessoas) e o pertencimento social, além de endereçar questões individuais referentes ao seu próprio processo de terapia.

A principal fonte de informações deste artigo foi o livro O Desenvolvimento da Pessoa, de Kathleen Stassen Berger.

Dê o primeiro
passo.

Vamos
conversar.

FALE COMIGO PELO WHATAPP OU PREENCHA O FORMULÁRIO ABAIXO:

Maurício Corsetti - Terapeuta e analista - Logo animado

Comments are closed.

Close Search Window